A arte, em seu mais profundo sentido, é a capacidade de capturar o efêmero, o indefinido e o irreversível, e, neste sentido, a exposição Wa Ba3den, de Jawad Al Mahli, que será inaugurada a 18 de janeiro na galeria Lumiar Cité, em Lisboa, não poderia estar mais em sintonia com o espírito da atualidade. Esta primeira mostra individual de Al Mahli em solo português oferece uma visão intimista e visceral sobre o cotidiano e os conflitos do Médio Oriente, elementos indissociáveis da sua arte.
A série de pinturas que dá nome à exposição, criada entre 2018 e 2023 em Ramallah, é um convite para entrar no íntimo de um espaço onde a linha entre o presente e o passado, o conhecido e o desconhecido, se dissolve. O título Wa Ba3den (que pode ser traduzido como “depois” ou como uma expressão de exasperação frente aos infortúnios recorrentes) já nos antecipa a tensão emocional e temporal que percorre as telas de Jawad Al Mahli. Através da sua linguagem fragmentária, o artista desafia o espectador a confrontar-se com figuras humanas que, à primeira vista, parecem familiares, mas que logo se revelam distantes e fantasmagóricas.
A escolha de Lumiar Cité como o local de exibição não poderia ser mais significativa. A galeria, com sua fachada de vidro, permite que o público observe as obras mesmo do lado de fora, como se estivessem protegidas por uma camada invisível, mas carregada de significados. Essa relação com a arquitetura da galeria sublinha uma das grandes inquietações de Al Mahli: a tentativa de encontrar sentido e presença em um mundo que se mostra constantemente fragmentado.
O trabalho de Jawad Al Mahli, que é tanto político quanto poético, coloca questões pertinentes sobre identidade, memória e o inconsciente coletivo de um povo. Ele constrói imagens de homens e jovens cujos gestos, ao mesmo tempo, nos parecem intemporais e impregnados de uma fatalidade irreversível. Esses personagens estão suspendidos, num estado de incerteza, como se o tempo tivesse se congelado ou se tivesse desmoronado, carregando consigo um silêncio eloquente.
A obra do artista palestiniano, que se faz ecoar no mesmo espaço físico da urbanização Lumiar, parece convidar o espectador a refletir sobre o que permanece invisível no fluxo constante da vida cotidiana, especialmente em contextos de constante tensão política e social. Jawad Al Mahli, com a sua arte, transforma esse silêncio em uma forma poderosa de resistência e reflexão.
A exposição Wa Ba3den é uma oportunidade imperdível para aqueles que desejam testemunhar uma obra que não apenas questiona a arte, mas também os próprios alicerces da nossa percepção sobre o que nos rodeia. De 18 de janeiro a 19 de janeiro, entre quarta e domingo, das 15h às 19h, Lumiar Cité abre suas portas para um dos artistas mais provocadores da cena contemporânea, onde a entrada é livre, mas as ideias e emoções despertadas são profundamente valiosas.
Lumiar Cité – Rua Tomás del Negro, 8A, Lisboa.

