Colar para não enlouquecer.
Assim, desse modo de titulação me apresentava para as duas primeiras exposições que realizei em 2001. Intitulei as mostras de “Para escorpião não se dá carona”; um título jocoso. Como esta era a maneira geral de procedimento na área embarquei no modismo. Porém, agora, relembrando, me dei conta que anteriormente, – em 1997 -, realizara uma exposição individual de fotografias sob o título geral de “A língua do flash” e esta fora de flagrantes cotidianos registrados com o fascínio do momento: a máquina Polaroid. Aparentemente me divirto e insinuo ser uma espécie de exercício falsamente terapêutico. Mas não. Engana-se quem assim prejulgar meus trabalhos. É uma jornada de solidão à cata de uma expressão pessoal; este é o real sentido de tudo.
O processo de elaboração para cada composição é lento e criterioso na seleção de imagens encontradas em velhas publicações nacionais e estrangeiras. Outro dia, enquanto aguardava minha hora na ante sala de meu oculista (*) tomei uma revista de pequeno porte e comecei a folhear e ler seus divertidos artigos e a medida que lia/folheava me deparava com imagens oportunas para futuras colagens…resultado: a mesma “escorregou” discretamente para minha pasta e obviamente depois, já bem longe dali, enviei uma mensagem ao médico me desculpando e narrando a ocorrência. É assim o processo, imagens escolhidas ao acaso, analisadas, guardadas, recortadas e coladas em função de um todo harmonioso com o intuito explícito de – pretensamente – “narrar” um história envolvendo o espectador e buscando nele uma reação, um diálogo em sua possível inércia pois entendo que arte é comunicação, um alerta contando a passagem desses novos tempos.
(*) O engraçado é que a consulta não aconteceu porque surgiram duas emergências e o médico precisou atender esses procedimentos. Mas as colagens surgiram depois.
Corte & Recorte
Primeiro, a seleção livre de imagens pesquisadas, apropriadas e recortadas de velhas publicações para arquivo. O momento seguinte é a aplicação desse acervo e sua consequente organização espacial tratando de colocar uma determinada ordem no caos que, instalados com a objetiva e firme intenção de “contar” uma história em um espaço de conotação, nem sempre política como aparenta mas, sim, um situar crítico focalizando o entorno vivencial, possibilitando desse modo uma leitura básica de comunicação com o espectador através do fazer artístico: recortado/desenhado/pintado/colado; uma tentativa de uma sinfonia visual.
Renato Rosa.