Um autorretrato emblemático de Frida Kahlo, El sueño (La cama), também conhecido como O Sonho (A Cama), foi vendido por US$ 54,7 milhões no leilão da Sotheby’s em Nova York, em novembro de 2025. A obra tornou-se a pintura mais cara já feita por uma mulher artista e, superando o recorde anterior de Georgia O’Keeffe, e, simultaneamente, a peça de arte latino-americana mais valiosa da história.
Pintado em 1940, durante um período turbulento na vida de Kahlo, marcado pelo recasamento com Diego Rivera após um divórcio e pelo assassinato de seu ex-amante, Leon Trotsky, o quadro retrata a artista deitada em uma cama flutuante contra um céu azul pálido, envolta por vinhas verdes retorcidas. Acima dela, um esqueleto amarrado com dinamite segura um buquê de flores secas, simbolizando sua luta contra a dor crônica decorrente de um acidente de ônibus quase fatal e cirurgias subsequentes. Para pintar, Kahlo usava um cavalete adaptado e um espelho no dossel da cama, como ela mesma escreveu na época: “Não estou morta e tenho uma razão para viver. Essa razão é pintar.”

A obra, que não era vista publicamente há quase três décadas, integrou o leilão “Exquisite Corpus”, com mais de 80 peças surrealistas de mestres como René Magritte e Salvador Dalí. Avaliada entre US$ 40 e 60 milhões, ela superou o recorde anterior de uma mulher artista, estabelecido por Jimson Weed/White Flower No.1, de Georgia O’Keeffe, vendido por US$ 44,4 milhões em 2014. Além disso, tornou-se a peça de arte latino-americana mais cara de todos os tempos, destronando outro trabalho de Kahlo, Diego y yo (2021), que agora ocupa o segundo lugar.
“Frida Kahlo ocupa um lugar completamente singular na história da arte. Há uma conexão quase espiritual que as pessoas têm com suas pinturas, que são tão profundamente pessoais e, ao mesmo tempo, ressoam universalmente”, afirmou Anna Di Stasi, chefe de arte latino-americana da Sotheby’s, em e-mail antes do leilão. “Esta pintura tem todos os traços de uma Frida assinatura: o autorretrato, a imagética surrealista e, o mais importante, uma intensidade psicológica e esse senso de comunhão entre artista e espectador.”
O recorde reforça o legado de Kahlo, cuja obra transcende fronteiras, misturando autobiografia, surrealismo e crítica social. Apesar dos avanços, o mercado de arte ainda reflete disparidades de gênero, com mulheres historicamente subvalorizadas, um tema que ganha destaque com vendas como esta. A peça, proveniente de uma coleção privada, foi exibida em cidades como Londres, Abu Dhabi, Hong Kong, Paris e Nova York, atraindo filas nas portas.
Com essa transação, Frida Kahlo continua a inspirar, provando que sua visão única não só resiste ao tempo, mas redefine valores no mundo da arte contemporânea.

