A partir de 15 de março, a Cinemateca Portuguesa abre as portas para um mergulho no universo mágico e subversivo de Serguei Paradjanov (1924-1990), um dos cineastas mais visionários e perseguidos do século XX. A retrospetiva integral “O Mundo Secreto de Serguei Paradjanov” exibe, pela primeira vez em Portugal, a totalidade da sua obra preservada — um tesouro cinematográfico que desafia categorias, misturando poesia, folclore e surrealismo numa explosão de cores e simbolismo.
Um Gênio à Margem do Sistema
Nascido na Geórgia, filho de pais arménios, e radicado na Ucrânia, Paradjanov construiu uma carreira breve mas fulgurante, marcada pela resistência à censura soviética. Perseguido pelo regime — que o prendeu por “desvio ideológico” —, o cineasta criou filmes que são como sonhos acordados: narrativas fragmentadas, paletas de cores vibrantes e uma mise en scène que oscila entre o sagrado e o profano. Suas obras, como “Cavalos de Fogo” (1965) e “Sayat-Nova – A Cor da Romã” (1969), tornaram-se ícones de uma arte que transcende o cinema, aproximando-se da pintura em movimento.
Apesar de ter dirigido apenas sete longas-metragens, seu legado influenciou gerações de cineastas, de Tarkovski a Almodóvar. Como disse o crítico de cinema Jonathan Rosenbaum: “Paradjanov não fazia filmes — criava cerimónias.”
O Ciclo: Raridades Restauradas e Fragmentos de um Testamento
A retrospetiva, organizada em colaboração com a Cinema Foundation of Armenia, a Associação de Amizade Portugal-Arménia e o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, inclui:
- Todas as longas e curtas-metragens sobreviventes, muitas exibidas em cópias restauradas em 2024 para celebrar o centenário do cineasta.
- Documentários sobre sua vida, incluindo imagens raras de “A Confissão” (1990), projeto interrompido pela sua morte e considerado seu “testamento espiritual”.
- “Cavalos de Fogo” (15 março, 17h30) e “Sayat-Nova – A Cor da Romã” (15 março, 21h30), obras-primas que lhe custaram a liberdade mas eternizaram seu nome.
Destaque para os restauros realizados em condições precárias na Ucrânia, em pleno contexto de guerra — um esforço heroico para salvar filmes que são também testemunhos de culturas ameaçadas.
Por Que Paradjanov Hoje?
Em tempos de conflitos geopolíticos e homogeneização cultural, a obra de Paradjanov ressoa como um manifesto pela diversidade. Seus filmes, enraizados nas tradições arménias, georgianas e ucranianas, celebram a resistência das identidades locais contra a opressão. “Ele filmava como quem bordava um tapete ancestral: cada quadro é um universo de símbolos”, explica Ana Farinha, programadora da Cinemateca.
Informações Práticas
- Quando: De 15 de março a 11 de abril de 2025.
- Onde: Cinemateca Portuguesa (Lisboa).
- Programação completa: Consulte aqui.
- Bilhetes: 5€ (sessões individuais) / Passe para o ciclo: 30€.
“O Mundo Secreto de Serguei Paradjanov” não é apenas uma retrospetiva — é uma viagem a um cinema que ousou ser arte total. Para quem busca beleza, rebeldia e um olhar que desafia o tempo. Como escreveu o próprio: “Minha pátria é a liberdade. E ela não tem fronteiras.”

