As Cabeças de Antonio Sérgio Moreira

A Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, Gamboa, Rio de Janeiro, RJ, exibe a exposição “Cabeças” de Antonio Sérgio Moreira, a última de sua programação encerrando o calendário de 2018 sob a curadoria de Marco Antônio Teobaldo.

A partir de uma visita do artista à construtora de uma amiga, em 2016, nela encontrou dezenas de capacetes de trabalhadores que seriam descartados, Antonio Sérgio Moreira viu naquele material, separado por diferentes cores de acordo com a função dos operários (seguindo normas da ABNT), um grande potencial para trabalhar algumas idéias sobre e seu papel de resistência no espaço que ocupa no contexto além da sua jornada de trabalho. Rostos foram pintados sobre a superfície de cada um dos 110 capacetes exibidos na instalação “Insólitos construtores”.

Outra série, iniciada em 1992, chamada de “Tétes” (cabeças, em francês), são, segundo o artista, “…a minha visão como os afro-ameríndios lêem a si mesmos, e como os outros afros se lêem.” Ele questiona e aponta: “…qual é a face da nossa identidade? As diferentes expressões de cada uma dessas cabeças são na verdade, como podemos ser estranhos um para o outro. A inserção na religiosidade Nagô me fez refletir mais sobre o valor da cabeça num âmbito maior da ancestralidade. O ori (cabeça em Iorubá) é mais importante do que a própria divindade ancestral.”

O curador da exposição, Marco Antonio Teobaldo, revela que “…a exposição “Cabeças” será composta por mais de 200 obras, a grande maioria formada por inéditas, dentre objetos, telas e papéis, que tecem uma trama sobre a memória do indivíduo negro e de seus antepassados, no contexto da Diáspora Africana, que é amplificada quando exibida sobre o sítio arqueológico do Cemitério dos Pretos Novos.”

O Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos – IPN, é o responsável pela preservação do sítio arqueológico da maior necrópole deste gênero, de africanos escravizados das Américas, e tem sido o guardião da memória deste episódio monstruoso na historio do Brasil, no qual, estima-se, mais de 50 mil corpos foram sepultados sem qualquer tipo de ritual fúnebre ou dignidade com os seus restos mortais.

Até 09 de fevereiro de 2019.