Novo artista no pedaço, no MAM de Salvador, Bahia

Para o público baiano valerá a pena conhecer e ver a obra de um novo artista, o pintor Aurelino dos Santos, que a partir do dia 15 de janeiro, quando o Museu de Arte Moderna da Bahia – MAM, abre a exposição do artista plástico. A mostra que leva o seu nome, com texto e curadoria de Caetano Dias, apresentando cerca de 50 obras do acervo da Paulo Darzé Galeria, Salvador, Bahia, e de coleções particulares. Uma revelação para o Brasil e para o mundo.

Sobre o artista

Aurelino dos Santos é um artista popular. Esta palavra não no sentido de conhecido, para aquele que está na mídia ou se torna referência numa conversa sobre arte, mas popular na acepção de um homem do povo, que vive uma vida simples, numa casa simples, em local de extrema simplicidade, arredio a conversas – não sabe ler nem escrever, apenas grafa o nome como se desenhasse, e tem grande dificuldade de penetração no universo da linguagem, mas criador de um trabalho primordialmente com a pintura, com composições onde a geometria é o que mais chama atenção. Aurelino dos Santos já ultrapassou os 70 anos de idade. Nasceu em 1942. Vive numa casa de extrema simplicidade nos arredores de Ondina, bairro de Salvador, e produz arte compulsivamente. É um autodidata, que escolheu ou foi escolhido pela pintura para realizar sua trajetória na vida. E mesmo com tudo isto pontuando sua existência exibe uma arte sutil e requintada na sua criação, criando obras onde a geometrização é uma característica, marcada por uma representação de planos, formas e cores, construindo paisagens, ao mesmo tempo vistas de perfil e de cima, com cores às vezes fortes ou monocromáticas, outras suaves e vibrantes. Suas obras acumulam um misto de referências variadas, que passa pelo barroco, chegando ao concretismo e o neoconcretismo, formulando paisagens que traduzem a vida urbana de uma maneira única, formadas por triângulos, retângulos, quadrados e círculos, planos verticais e horizontais, uma geometria pessoal e uma visão misteriosa para o indecifrável da criação de uma obra de arte, ao levar quem vê seu trabalho para um envolvimento com o desconhecido, o secreto, o mistério, o encantado, e o encantamento que fascina no primeiro olhar. A sua arte é pintar. Falar sobre Aurelino é falar de sua pintura.

   

Trecho de um ensaio

Para sua exposição individual no Museu Afro-Brasil, Aurelino – A Transfiguração do Real, onde foram mostradas mais de cem peças, Urania Tourinho Peres escreveu um longo ensaio, fruto de suas conversas com o pintor e sua formação de psicanalista, com o título “Porque é beleza”, onde inicia com estas palavras: Ainda que não se saiba exatamente o que é a loucura em suas variadas formas de manifestação, e, sobre a obra de arte muita interrogações nos acompanhem, Aurelino dos Santos é reconhecido como louco e artista. Não é sem admiração e assombro que contemplamos sua arte. Sua produção traz a marca de um estilo que confere à sua pintura uma unidade. Quem tem acesso à sua obra não sente dificuldade em identificá-lo em sua produção e afirmar: “Este é um Aurelino” – maneira habitual de reconhecimento de um artista, na qual a obra ganha a identidade do autor”.