VAN GOGH – ARTE & LOUCURA ( I ) – Portal da Eternidade

HOJE assisto o filme Portal da Eternidade ( At Eternity Gate) de Julian Schnabel (o Diretor tb de Basquiat, de Antes que amanheça e A borboleta e o escafandro ). Não fosse Schnabel também pintor pra esse mergulho nas profundezas da alma desesperada de VAN GOGH, num filme que praticamente se utiliza de sequência e camera subjetiva, quase documental, do processo de criação e de demência febril de um dos mais importantes pintores da História da Arte.

O protagonista Willen Dafoe ultrapassa os limites de uma interpretação inspirada para realizar uma vigorosa tradução desse transe em forma de linguagem cinematográfica – com Roteiro do Diretor e de Jean-Claude Carriére ( de filmes de Buñuel, Peter Brooks) escritor na contramão das receitas de bolo do cinema americano dos estúdios e seus manuais previsíveis e idiotizantes.

Com Fotografia de Benoit Delhomme, que surfa pelos campos marrons e dourados do Arles, onde o pintor viveu entre a dedicação à pintura e várias internações em manicômios – em busca da luz e de um amarelo que obstinadamente buscava na paisagem e nas tintas.Essa luz que no filme não se delimita entre o Real dos campos de flores e os girassóis das telas – “…não sei onde um começa e o outro termina “(numa apropriação dos versos de Murilo Mendes).

A mesma transposição da atmosfera dos encontros dos Impressionistas em Paris , visivelmente inspirada nas telas de Degas e do Gauguin anterior às suas pinturas de Madagascar e da Polinésia francesa.

Como se não bastasse, esse espetáculo de Beleza pura ( cujo conceito Thomas Mann discorreu em Morte em Veneza), a trilha musical de Tatiana Lisovkaia pontua discretamente as passagens de tempo e os delírios filosóficos e pictóricos do artista como a necessária moldura de sua vida e obra.

Um filme de Cinema em seu estado bruto, sem a maquiagem das biografias apressadas e convenientes.
IMPERDÍVEL.