Solos Internacionais de Dança com VITTUCCI

Nos dias 20 e 21 de maio o Centro Cultural de Belém apresenta no Museu de Marinha, Hot Spot – Solos Internacionais de Dança.

Uma minissérie de solos que propõe, ao longo de dois dias, um olhar sobre a paisagem mais recente da dança contemporânea internacional.

«A solo for future feminism» é o subtítulo do último trabalho da coreógrafa e bailarina suíça, Teresa Vittucci, cuja obra, na fronteira da dança com a performance, tem sido amplamente reconhecida. HATE ME, TENDER é uma investigação sobre ódio e feminismo. Neste solo, examina uma das figuras femininas culturalmente mais importantes, a Virgem Maria. Com uma violência suave, Vittucci desvenda o estranho potencial de uma figura que é culturalmente vista como o epítome da pureza, inocência e perfeição, ícone da mulher compassiva e mãe enlutada. Reverenciada pelas autoridades eclesiásticas pelo seu papel de Mãe de Deus, criticada pelos movimentos feministas como um modelo repleto de estereótipos femininos – a Virgem polarizou gerações, inclusive por ser mulher. No seu solo, Vittucci quer libertá-la, emancipá-la e reabilitá-la no seu papel ambivalente de amor incondicional e como embaixadora de um feminismo queer.

HATE ME, TENDER é o título do último trabalho da coreógrafa e bailarina suíça, Teresa Vittucci, cuja obra, na fronteira da dança com a performance, tem sido amplamente aplaudida. Neste solo, examina uma das figuras femininas culturalmente mais importantes, a Virgem Maria.

Algumas notas acerca de HATE ME, TENDER e a Virgem Maria

Por Teresa Vittucci

Quando confrontados com a Virgem Maria – tal como o nome sugere – não podemos evitar primeiro desconstruir a sua virgindade antes de nos focarmos nela enquanto pessoa e personalidade. Como tal, antes de me debruçar sobre as qualidades de Maria que mais me emocionam (vulnerabilidade, misericórdia, amor), e nas quais encontro um momento feminista e agitador de um contrato social ideal, vejo-me forçada a questionar o maior dos atributos de Maria: o seu corpo imaculado. Este, por sua vez, é sintomático para as personagens femininas e a feminilidade: o corpo feminino e a sua constituição estão em primeiro plano: a feminilidade está intimamente vinculada a uma objetificação e idealização do feminino por via do corpo. A submissão feminina, quer através do falo, quer através da feminilidade atribuída, é virulenta para a socialização feminina. As mulheres aprendem – estruturalmente falando – que devem ser boas mães, criar harmonia, ser carinhosas, reservadas, piedosas e belas. Elas devem irradiar fertilidade, mas também castidade, ser sensuais, mas exclusivamente reservadas. É isto que acontece igualmente com a Virgem Maria: existe um entrelaçamento de maternidade e virgindade enquanto núcleo essencial da feminilidade ideal.

O hímen é o verdadeiro símbolo desta castidade e reserva: preserva e deve servir como prova. Serve-me de motivo condutor em HATE ME, TENDER; eu sigo a história do hímen e apercebo-me: é um constructo regulador que possui uma assustadora validade amplamente suportada no discurso da sexualidade feminina. Gostaria de derrubar esta noção sem descrever claramente este mito.

Hot Spot

Solos Internacionais de Dança

20 e 21 de maio • 19h00 e 20h15 • Museu de Marinha

Teresa Vittucci (19h00)

HATE ME, TENDER

a solo for future feminism