17 dias de programa IndieLisboa 2021 que inicia neste sábado

O IndieLisboa 2021 mostra obras que se encontram fora do radar. São mais de 270 filmes exibidos todos os anos e que atraem público e profissionais de cinema de todo o mundo, dando-lhes a oportunidade de descobrir filmes recentes de talentos emergentes e redescobrir autores de renome.

A 18.ª edição do festival IndieLisboa 2021 acontece de 21 de Agosto a 6 de Setembro na Culturgest, no Cinema São Jorge, na Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal e Biblioteca Palácio Galveias, e traz à cidade dezenas de filmes durante 17 dias, além de cinema ao ar livre, debates, workshops, masterclasses, encontros e um programa especial para o público mais novo no IndieJúnior.

Entre as novidades da edição IndieLisboa 2021 estão a retrospectiva integral da realizadora francesa Sarah Maldoror, o foco da secção Silvestre no trabalho do realizador Camilo Restrepo ou ainda a projecção de filmes que estavam há muito na gaveta e serão agora redescobertos.

São doze filmes, dos quais “Nous”, de Alice Diop, e “Les Sorcières de L’Orient”, de Julien Faraut, integram a competição internacional do Festival de Cinema IndieLisboa 2021. Com seis documentários e outros tantos filmes de ficção, a competição internacional revela “uma multiplicidade de vozes, transversais e conscienciosas“, com “discursos cinemáticos muito variados“, segundo comunicado da organização.

Nous, de Alice Diop (Divulgação)

É o caso de “Nous”, filme da premiada realizadora francesa Alice Diop, um retrato fragmentado de quem habita nos subúrbios de Paris e que passou este ano no Festival de Berlim.

Em tempo de Olimpíadas, destaque ainda para a inclusão no IndieLisboa de “Les Sorcières de l’orient”, produção francesa de Julien Faraut que recorda as atletas da equipa de vólei do Japão, que venceu a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos em 1964, em Tóquio, e que ficaram conhecidas como “As bruxas do Oriente”.

Les Sorcières de l’Orient, de Julien Faraut (Divulgação)

Na competição estão ainda primeiras obras, como “Les Prières de Delphine”, de Rosine Mbakam, sobre uma jovem migrante camaronesa, e “The Inheritance”, de Ephraim Asili, que foca uma comunidade de artistas e ativistas negros na zona oeste de Filadélfia, nos Estados Unidos.

Les prières de Delphine, de Rosine Mbakam (Divulgação)

IndieJúnior em um mundo de ideias projectado no grande ecrã

No habitual caleidoscópio de emoções, lugar irreverente que é o IndieJúnior na sua génese, a programação deste ano olha para o cinema enquanto poço de criação. O fazer, criar e pensar espelhado nas imagens projectadas no ecrã. De menções à batalha que é o teletrabalho para pais com crianças (Contos do Multiverso), a conversas sobre inclusão social e questões de género (Os Sapatos do Louis e RaparigasRapazesmix), passando por uma mensagem ecológica e conscienciosa sobre o ambiente que nos rodeia (Orgiástico Hiper-Plástico e Bom Dia Mundo!) e a importância de dar asas à imaginação nos dias que correm (Olá Senhor), são mais de 40 filmes, a maioria em competição este ano, que se aliam a um carácter educativo, mas divertido, neste que é sempre um reencontro tão aguardado e que nos pede para abraçar o cinema mais uma vez, em grande segurança. 

Contos do Multiverso, de Magnus Igland Møller, Mette Tange, Peter Smith (Divulgação)

Um dos principais destaques deste ano é o Dia da Família, que decorrerá no próximo dia 4 de Setembro, e que começará por mostrar uma sessão especial de curtas-metragens (+3 anos) –  Laços de Família – com locução ao vivo do actor, escritor e humorista Pedro Cardoso, na Culturgest. Dentro desta, salienta-se uma versão da Terra que não saiu como esperado, como muitos pais em teletrabalho bem o têm dito nos últimos tempos. Na curta-metragem Contos do Multiverso, Deus defronta-se com esta problemática.

A projecção de filmes será seguida pela Festa ao Ar Livre, no jardim da Biblioteca Palácio Galveias, que contará não só com um concerto ao vivo de Gui Calegari, músico e artista do colectivo Baileia, mas também com uma oficina de expressão plástica Sem Limites (3-8 anos), em parceria com a editora Orfeu Negro e jogos inspirados na programação.

Todas as actividades relativas à Festa IndieLisboa 2021 são gratuitas – inscrição prévia obrigatória para a oficina em www.indielisboa.com/indiejunior/oficinas. Para acabar o dia, haverá uma sessão ao ar livre da longa-metragem Bom Dia Mundo! (+6 anos), ainda no jardim da Biblioteca Palácio Galveias, um delicado filme feito com figuras de papel de jornal animadas em stop motion e esculturas feitas à mão em cenários pintados com toda a atenção ao detalhe, contado através do olhar de dez animais que, juntos, iluminam as maravilhas da natureza. 

Bom dia mundo!, de Anne-Lise Koehler, Éric Serre (Divulgação)

Bom Dia Mundo! foi a principal inspiração para uma oficina de madeiras Nasci, e Agora…?, que acontecerá no dia 5 de Setembro no pátio da Biblioteca Palácio Galveias, que se foca nos seus participantes enquanto construtores do mundo. Partindo de madeiras e pequenos objectos recolhidos directamente da natureza, as crianças poderão contemplar a biodiversidade apresentada no filme e completar as suas criações com técnicas de acabamento de madeira e aplicação de cera ou óleo de origem natural. 

Mas a atenção deste ano prende-se na novidade que é o Cinema de Colo, a muito sonhada parte da edição deste ano que se concretiza numa sala de cinema pequena e segura, com uma cenografia feita especialmente para pais e bebés. Desenhado para crianças dos 4 meses aos 2 anos e meio, o cinema de colo é assim denominado por duas razões. A mais óbvia remete para o lugar a partir do qual um bebé começa a conhecer o mundo em seu redor.

A outra contextualiza a criação de uma cenografia, dentro de uma sala mas inspirada no ar livre, onde a criança pode reagir e mover-se em segurança num replicar do colo aconchegado de um pai durante uma noite estrelada, nesta que é uma primeira e inesquecível descoberta visual e interactiva para os mais pequeninos e as suas famílias.

Durante estas sessões, passarão cinco pequenos filmes, histórias cheias de cores e sons estimulantes, com projecções surpreendentes que focam o poder conjunto do som e da luz. 

Nos filmes em competição este ano para os mais pequenos – sessões Sonhar Acordado (+3 anos) e A Vida é uma Surpresa (+6 anos) -, sublinham-se filmes apuradores do potencial criativo que a programação procura dar ênfase, simples mas sábios. Por um lado, filmes que olham para o amor enquanto uma chama inapagável, como em No Fim do Amor! (+3 anos) e Bombeiro (+6 anos). Por outro, o estímulo do performativo, dos filmes que nos trocam as voltas e surpreendem, como em Cães Zangados (+3 anos) e Sete Cabritinhos (+6 anos).

Os Sete Cabritinhos, de Marina Karpova (Divulgação)

Repetindo o que tem vindo a acontecer todos os anos, a iniciativa Eu Programo um Festival de Cinema, a actividade educativa que dá oportunidade a alunos do 2º e 3º ciclos para programar cinema para crianças da sua faixa etária, revela-nos filmes fundamentais, que abordam temáticas socialmente relevantes.

Com a Escola Básica e Secundária Josefa de Óbidos (sessão O Lugar das Memórias, +10 anos) e a EB 2/3 Almeida Garrett (sessão Pensar, Sonhar e Voar, +12 anos), ficamos a conhecer filmes que todos nós devíamos ver. A começar pela história de Louis, uma criança autista, que acaba de chegar a uma nova escola, onde pode finalmente compartilhar a sua visão das coisas em Os Sapatos do Louis (+10 anos).

Não tanto sobre a sua condição neuro-atípica, mas mais sobre a tendência que a sociedade tem em catalogar as nossas identidades, este pequeno e brilhante filme denota um entendimento iluminado sobre o ser humano – “moldes são bons mas só para fazer waffles”. Na mesma linha de pensamento encontra-se RaparigasRapazesmix (+10 anos), um relato de Wen Long sobre a sua história enquanto criança intersexo, Julho 96 (+12 anos), um filme que se centra numa altura determinante na vida de duas raparigas, nesta que é uma história de férias de Verão, e nos fala do fim enquanto crianças e a preparação para um início impossível de prever, e Daqui à Lua (+12 anos), que contempla a morte e a maneira como lidamos ou não com ela. 

Daqui à Lua, de Sara Kolster (Divulgação)

De sublinhar, Os Sapatos do Louis será o ponto de partida para o debate “Autismo: o caminho para a inclusão na escola e na comunidade”, que se perguntará sobre como identificar o autismo, mas também como abordar a questão da diferença. Não somos afinal todos diferentes? Um filme-debate para todos os pais, filhos e professores, que acontecerá no dia 2 de Setembro na Biblioteca Palácio Galveias (entrada livre, limitada à lotação da sala – inscrição prévia obrigatória em www.indielisboa.com/indiejunior/oficinas).

Os Sapatos do Louis, de Jean-Géraud BLANC, Kayu LEUNG, Marion PHILIPPE, Théo JAMIN (Divulgação)

Para além destas actividades, o IndieJúnior propõe ainda uma oficina de flipbooks, Quero Animar! (+7 anos), concebida e dinamizada pela realizadora Leonor Faria Henriques, que tem o seu filme Nada a Perder (+6 anos) na programação, sobre como enfrentar a perda e descobrir como superá-la. A oficina acontecerá no dia 21 de Agosto no pátio da Biblioteca Palácio Galveias, e será um dos momentos mais divertidos do festival, onde os miúdos poderão dar os primeiros passos no mundo mágico da animação 2D num pequeno flipbook, com a ajuda de papel e lápis de cor. E uma oficina de expressão corporal Ver o Mundo com as Mãos (+5 anos), concebida pela dupla de artistas-educadores Baileia, inspirada no filme Olá Senhor, que brinca com as perspectivas. Tal como o filme, vê as coisas com outros olhos, toca em árvores muito altas ou carrega um amigo sem sair do lugar.  

 

IndieLisboa 2021

De 21 de agosto a 6 de setembro de 2021

Locais: Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa, Cinema Ideal e Biblioteca Palácio Galveias.

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