Surfando nessa semana, onde Marcel Duchamp foi assunto em algumas rodas por onde andei, houve por bem lembrar-me de duas situações.
Uma com o célebre dadaísta por ocasião de uma exposição em museu americano. Consta que sua obra capital “O Grande Vidro” teria sofrido uma batida ou uma queda durante seu transporte e por consequência os dois vidros que aprisionam diversos materiais de sua composição acabaram…rachando.
Marcel, que poderia ganhar uma gordíssima indenização da instituição, optou pela manutenção do trabalho com seu providencial efeito causado pelo acidente e assim se mantém ao longo do tempo. Duchamp julgou conveniente o resultado daquele acidente que passou a fazer parte da obra.
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O fato seguinte deu-se comigo em exposição que montei no Espaço Cultural Yázigi, em 1983. Era uma coletiva-monstro com cerca de setenta artistas. Pois não é que algum aluno me passa um estilete e dá um mísero e mínimo corte numa montagem plástica que cobria um trabalho em pastel oleoso?
A obra do artista nada sofrera, sequer fora atingida. Mas eu tinha o dever de comunicar o breve acidente ao artista. E foi o que fiz. A responsabilidade era minha e eu vivia um período de dureza total porque decidira não mais trabalhar com os medalhões locais (Xico, Malagoli, Fuhro, Dexheimer, Magliani, Alice Soares e outros) e abraçar e promover toda sorte de artista novo que surgisse no pedaço e qual não foi a minha surpresa quando a pessoa, após ser oficiada do fato, reage indicando-me pagamento indenizatório através de seu advogado com quem, aliás, acertei pedindo um razoável parcelamento que foi aceito com muita, mas muita relutância.
A diferença da província para um mundo mais amplo ficou evidenciada nesse episódio. De minha parte nunca mais solicitei nada do dito personagem provinciano. Valeu.