Sandra Birman transforma luto em arte na exposição ‘Escape’

Artista brasileira que vive em Lisboa apresenta obras criadas com recortes de tapeçarias herdadas da mãe. Exposição será inaugurada a 3 de maio na galeria Castra Leuca, em Castelo Branco 

 

A artista plástica Sandra Birman encontrou uma forma inusitada de lidar com a perda da mãe, no fim de 2019. Ao entrar no apartamento da família, no Rio de Janeiro, e ver-se diante de tecidos antigos e diversos exemplares de autênticas tapeçarias gobelin, com as paisagens europeias que fizeram parte de toda a sua história até ali, ela decidiu recortar a herança e transformá-la em material para as suas obras. O trabalho de pintura e colagem sobre aqueles valiosos têxteis atravessou o Oceano Atlântico com a artista , quando decidiu mudar-se para Lisboa, no início de 2020. E deu origem à coleção “Escape”, que a partir do dia 3 de maio, estará patente na recém-inaugurada galeria Castra Leuca Arte Contemporânea, em Castelo Branco.

 

O título “Escape” é uma reflexão sobre a jornada emocional e criativa da artista, na sua primeira exposição a solo em Portugal. O nome sugere uma fuga não apenas dos cenários representados nas tapeçarias e tecidos, mas também das influências culturais e memórias que os cercam. Segundo Sandra Birman, porém, a palavra “escape”, que vem de “landscape” (paisagem em inglês), agrega também a ideia de transcender, transformar e criar um novo mundo visual e emocional.

 

“Além do escape das memórias e influências culturais, há o escape para a imaginação, com as obras resultantes da reinvenção das imagens idílicas das paisagens europeias transformando-se em ‘mapas imaginários’, que sugerem uma fuga para um mundo de novas memórias e desafios. O escape da limitação, em que a reconstrução de um ambiente a partir da fragmentação das paisagens naturais foge das limitações da representação tradicional e abre caminho para uma interpretação livre de dogmas visuais. E o escape como transformação, em que o processo artístico de recortar, pintar e reinventar as imagens, permite-me uma fuga dos padrões óbvios das paisagens, com a sua transformação em algo inusitado e único”, explica a artista, que pela segunda vez foi selecionada para o RA Summer Exhibition e terá novamente uma de suas obras exibida na Royal Academy of Arts, em Londres.

 

Designer gráfica por formação e com uma carreira bem-sucedida na criação de logomarcas para empresas e já a meio do seu percurso como artista plástica, Sandra Birman quis experimentar o olhar do outro lado do espelho ao ingressar, em 2022, na pós-graduação em Curadoria de Arte, na Universidade Nova de Lisboa. Foi nas aulas do curso que conheceu César Correia, um engenheiro de formação que, depois da pandemia decidiu abandonar a carreira em gestão e marketing para dar vazão à paixão pelas artes. César é o dono da Castra Leuca, a primeira galeria privada de Arte Contemporânea do interior de Portugal.

 

“Durante o curso, ficamos amigos e tive a oportunidade e o prazer de começar a conhecer o trabalho da Sandra. Ainda antes de ter terminado a pós-graduação, eu já tinha proposto à Sandra fazer uma exposição na minha futura galeria”, conta César Correia, que nasceu na aldeia de Benquerenças e regressa à terra depois de viver os últimos anos em Aveiro.

 

Nas conversas para oficializar o projeto de levar a exposição de Sandra à galeria de César, inaugurada em março deste ano, os amigos tiveram uma alegre surpresa.  Quanto mais a artista partilhava pormenores sobre o seu trabalho, mais o galerista descobrira a sinergia entre as obras de Sandra com os bordados de Castelo Branco, o Jardim do Paço Episcopal e com a cidade de uma forma geral. 

 

“Convidei a Sandra para vir conhecer Castelo Branco e foi muito agradável ver o encantamento e a ligação que sentiu e todos os diálogos que se podem construir entre a cidade e o seu trabalho. Foi um dia mágico e quente, apesar do frio que se fazia sentir”, lembra César, que completa: “As tapeçarias recortadas e as novas paisagens construídas pela Sandra, no diálogo com os bordados de Castelo Branco, e os buracos negros em ligação com o Jardim do Paço Episcopal e os seus labirintos feitos com os arbustos, transportam-me para as memórias da minha infância, que são um escape para as minhas memórias de menino, que brincou e correu naquele jardim de forma livre e despreocudada”.

 

Paralelamente à exposição, Sandra Birman fará uma visita guiada aberta ao público, a 16 de maio. E a  25 de maio, a artista dará um workshop sobre colagens.

 

“O meu maior objetivo ao abrir uma galeria na minha cidade é dinamizar a arte contemporânea no interior de Portugal, expondo, comercializando e promovendo a obra de artistas nacionais e estrangeiros”, afirma César Correia.

 

“ESCAPE” NA GALERIA CASTRA LEUCA

Inauguração: 3 de maio, às 16h

Encerramento: 16 de junho

Morada: Rua de Santa Maria 129, 6000-178, Castelo Branco

Entrada Livre