O Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), em Lisboa, recebeu no passado sábado, 22 de fevereiro, a exposição “Na Era da Inteligência Artificial”, que reúne as 10 obras finalistas da terceira edição do Prémio “A Arte Chegou ao Colombo”. A mostra, que fica patente até 30 de março, desafia artistas emergentes a explorar o impacto da inteligência artificial na sociedade e na arte, através de diferentes vertentes e técnicas.
A exposição apresenta uma variedade de projetos artísticos, desde fotografia e instalações até arte digital e esculturas audiovisuais. Entre as obras selecionadas, destacam-se 10 artistas:
“Silêncio”, de Carolina Rocha (Izanami) – arte digital

Carolina Rocha (Izanami) apresenta a obra “Silêncio”, uma denúncia da censura artística e da influência do poder monetário e mediático na validação da arte. Através de elementos como armas e metal corroído, a artista representa a luta do artista para ser visto e validado, enquanto a língua simboliza a palavra silenciada pelo poder. Formada em História da Arte pela Universidade Paris-Sorbonne, Carolina superou um AVC causado por um angioma cerebral, usando a inteligência artificial como extensão da sua mente e corpo para continuar a criar. Sua condição médica inspira sonhos e pesadelos que reflete em suas obras.
“Medusa”, de Nicoleta Sandulescu (fotografia)
Nicoleta Sadulescu apresenta a obra “Medusa”, uma reflexão fotográfica sobre a inquietação diante do desconhecido e da evolução da inteligência artificial (IA). A medusa, com sua flexibilidade biológica, serve como metáfora para a IA, que se adapta e transforma de forma imprevisível. A obra captura a dualidade da figura mitológica da Medusa, entre beleza e ameaça, espelhando a tensão entre os benefícios e os riscos da IA. A imagem dramática convida o espectador a mergulhar nas incertezas da evolução tecnológica, questionando até onde a flexibilidade desses sistemas pode nos levar. Nascida na Moldávia e radicada em Lisboa, Nicoleta é mestre em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e já expôs individual e coletivamente em locais como o Museu Arqueológico do Carmo e a Bienal Internacional de Arte de Pequim. Sua obra foi premiada em concursos como o Prémio Paula Rego e a Bienal Internacional de Cerveira.
“Sui Generis”, de Sofia Taipa (instalação)
Sofia Taipa apresenta a instalação “Sui Generis”, um dicionário personalizado em que cada palavra recebe uma classificação numérica, entre 0 e 100, atribuída por um modelo de Machine Learning (ML). A obra critica a falsa personalização desses modelos, que reduzem a complexidade humana a correlações estatísticas, homogeneizando dados e reforçando uma universalidade padronizada. A instalação, que replica um ambiente clínico, convida os visitantes a analisar o dicionário através de um microscópio digital, questionando como a identidade individual se dissolve em interpretações quantitativas. Sofia Taipa, artista multidisciplinar com formação em Belas-Artes e Ciências Computacionais, explora a interseção entre tecnologia, materialidade e identidade coletiva. Co-fundadora do coletivo threadsafe, seu trabalho já foi exibido em eventos como o Digital Design Weekend do Victoria and Albert Museum, em Londres.
“Immersive Canvas 5.0”, da dupla Empório Aragão (mixed media e realidade virtual)
Empório Aragão apresenta a instalação “Immersive Canvas 5.0”, uma experiência interativa que une arte, moda, natureza e tecnologia. A obra inclui duas criações artísticas geradas por inteligência artificial (IA), inspiradas nos cinco elementos da filosofia japonesa (godai), e um holograma 3D que projeta animações dessas obras. A instalação também conta com wearable art (arte vestível), onde as peças ganham dimensão móvel e performática, e uma vídeo-projeção que contextualiza o processo criativo. Durante a inauguração, performers vestirão as peças de wearable art e atuarão como suportes para o holograma, transformando a experiência em uma cápsula performática. A dupla Mónica Gomes e Sílvia Gomes, doutorandas em Artes e Imagem em Movimento, é conhecida por integrar IA, holografia e realidade virtual na moda e nas artes, promovendo um diálogo sobre sustentabilidade e inovação no setor. Suas criações já foram exibidas em locais como a Saatchi Gallery (Londres) e a Pavart Gallery (Roma), e premiadas na 63ª edição da Moda Lisboa.
“Bridge Vibrations”, de Luísa Ramires (pintura e monotipia de serigrafia)

Le_Brimet apresenta a instalação “[ R E S O N A N C E ]”, uma obra que explora a interação entre criatividade, tecnologia e novos materiais, criando uma experiência multissensorial. Utilizando inteligência artificial (IA), impressão 3D com braços robóticos e materiais inovadores como polímeros sustentáveis e biomateriais (rPETG), o artista gera formas únicas que transcendem o tangível. Padrões fluidos e texturas que evocam elementos naturais convidam à interação, enquanto algoritmos inteligentes interpretam inputs humanos, como gestos ou desenhos, para criar obras emergentes e imprevisíveis. A instalação, que combina estética, tecnologia e sensações humanas, é apresentada como uma performance imersiva, intensificando a conexão entre criador, máquina e público. Le_Brimet, um artista digital e diretor criativo multidisciplinar, define-se como um “Criativo Computacional (Re)Generativo”, explorando a simbiose entre arte, criatividade e tecnologia. Reconhecido internacionalmente, seu trabalho desafia os limites da arte e da tecnologia, promovendo um futuro onde essas dimensões coexistem em harmonia. Recentemente, foi destacado pela revista FRAME como um dos criativos digitais mais proeminentes do mundo.
“Samambaia não possui flores”, de Vera Fonseka

Vera Fonseka apresenta a obra “Samambaia Não Possui Flores”, uma reflexão sobre a resistência e a adaptação na era da inteligência artificial. A obra, criada com a ajuda de ferramentas como Procreate, Kandinsky 2.0 e ChatGPT, explora a relação entre o natural e o tecnológico, combinando formas orgânicas com padrões abstratos repetitivos. As cores rosa e azul simbolizam esperança e racionalidade tecnológica, respectivamente, criando uma ponte entre passado e futuro. Nascida na Estónia e radicada em Portugal desde 2003, Vera é licenciada em Artes Plásticas e mestre em Psicologia Clínica, integrando arte e saúde mental em seus projetos terapêuticos. Representada pela Galeria António Prates, suas obras estão em coleções particulares em Portugal e no exterior.
“Cérebro”, de Sonia Li – arte digital

Sónia Li apresenta a obra “Cérebro”, uma exploração artística que combina inteligência artificial (IA) e neurociência para criar alucinações visuais únicas. Utilizando sua própria arte em vídeo como base, a artista treina a IA para gerar imagens em movimento que misturam o subconsciente humano com a lógica das máquinas. O processo inclui terminologias de neurociência, psicologia e budismo, além de suas paixões pessoais, como o mar e a floresta tropical. Com formação em Tecnologia Interativa e Artes Visuais, Sónia cria obras imersivas que fundem arte digital, som e dança, explorando a relação entre tecnologia e experiência humana. Suas obras estão em coleções como a EMPA (Suíça) e foram exibidas internacionalmente, incluindo no Gewerbemuseum (Suíça) e no Centro Cultural FIESP (Brasil).
“Simetria da Fala”, de Rodrigo Amarante Gomes (escultura audiovisual)
Rodrigo Amarante Gomes apresenta a obra “Simetria da Fala”, uma instalação que explora a criação de uma proto-língua por dois organismos artificiais. Diferente da abordagem competitiva comum em treinos de Machine Learning, as máquinas aqui colaboram, desenvolvendo um meio de comunicação através da partilha. Inspirado nos cantos guturais mongóis, o projeto traduz sons e imagens em ideias abstratas, utilizando a biblioteca ConvoKit, baseada em discussões da Wikipédia. A obra questiona como as simetrias e assimetrias das linguagens digitais influenciam a construção de realidades alternativas, transformando o falso em verdade. Rodrigo Gomes, artista e docente português, foca seu trabalho no impacto das tecnologias digitais na sociedade. Suas obras já foram exibidas internacionalmente, incluindo mostras em Santiago de Compostela, Atenas, Paris e Wroclaw, e recebeu prêmios como o D-Normal/V-Essay Awards (Hong Kong) e o Prémio Sonae Media Art (MNAC).
“Resonance”, de Le_Brimet (instalação artística)
Le_Brimet apresenta a instalação “[ R E S O N A N C E ]”, uma obra que explora a interação entre criatividade, tecnologia e novos materiais, criando uma experiência multissensorial. Utilizando inteligência artificial (IA), impressão 3D com braços robóticos e materiais inovadores como polímeros sustentáveis e biomateriais (rPETG), o artista gera formas únicas que transcendem o tangível. Padrões fluidos e texturas que evocam elementos naturais convidam à interação, enquanto algoritmos inteligentes interpretam inputs humanos, como gestos ou desenhos, para criar obras emergentes e imprevisíveis. A instalação, que combina estética, tecnologia e sensações humanas, é apresentada como uma performance imersiva, intensificando a conexão entre criador, máquina e público. Le_Brimet, um artista digital e diretor criativo multidisciplinar, define-se como um “Criativo Computacional (Re)Generativo”, explorando a simbiose entre arte, criatividade e tecnologia. Reconhecido internacionalmente, seu trabalho desafia os limites da arte e da tecnologia, promovendo um futuro onde essas dimensões coexistem em harmonia. Recentemente, foi destacado pela revista FRAME como um dos criativos digitais mais proeminentes do mundo.
“Deserto das Sombras”, de Alexandra Faria

Alexandra Faria apresenta a obra “Deserto das Sombras”, uma instalação que reflete sobre a dependência tecnológica e a “desumanização” nas relações humanas na era digital. Utilizando papel branco, colagem e projeção de sombras, a artista evoca a linguagem binária (0s e 1s) e retrata um cenário de vazio e fragilidade, questionando o futuro da sociedade contemporânea. Natural de Lisboa (1964), Faria tem formação em Pintura e expõe regularmente desde 2014, com destaque para participações na Bienal de Arte de Estremoz (2023) e exposições individuais como “Impermanências” (2023).
Processo de seleção e prémios
Os artistas finalistas receberam uma verba de 1000 euros para concretizar os seus projetos, que agora estão expostos no MNAC. No dia 31 de março, será anunciado o vencedor, que receberá um prémio monetário de 10 mil euros.
Um dos pontos diferenciadores desta iniciativa é a participação do público na decisão final. Até 24 de março, os visitantes podem votar na sua obra preferida no site do Centro Colombo, com o resultado da votação a ter um peso de 40% na escolha do vencedor. Os restantes 60% cabem ao júri, composto por especialistas como Emília Ferreira (MNAC), Joaquim Oliveira Caetano (Museu Nacional de Arte Antiga), Nuno Faria (Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva), Rita Lougares (Museu de Arte Contemporânea/CCB) e Salvato Teles de Menezes (Fundação D. Luís I).
Sobre o prémio “A Arte Chegou ao Colombo”
Promovido pelo Centro Colombo e coorganizado pela SOTA – State of the Art, o prémio surgiu em 2020 como parte de um projeto pioneiro do centro comercial, que há 14 anos promove a interação com a arte de forma livre e acessível. Esta edição contou com a participação do artista Leonel Moura, pioneiro na aplicação da robótica e da inteligência artificial na arte, como embaixador.
- Local: Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC), Lisboa.
- Datas: 22 de fevereiro a 30 de março de 2025.
- Horário: Terça a domingo, das 10h00 às 18h00 (intervalo das 13h00 às 14h00).
- Bilhetes: 10€ (entrada gratuita para crianças até 12 anos).
Para votar na sua obra favorita, aceda AQUI. Para o seu voto ser contabilizado, é preciso validar o voto no link que recebe por email.
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