Na costa sul do país, onde o Atlântico respira com sal e silêncio, uma exposição desponta como quem abre um guarda-sol em pleno areal — não para sombra, mas para luz. “Praia, Arte and Love” inaugura no dia 11 de abril de 2025 na Galeria Alfaia, em Loulé, e estende-se até 14 de junho, reunindo oito artistas que, no verão passado, aceitaram um desafio tão solar quanto político: transformar a praia num espaço expositivo, um laboratório sensorial, uma metáfora viva.
Angelo Gonçalves, Bruno Grilo, Leandro Marques, Miguel Cheta, Pedro Cabral Santo, Sara Navarro, Susana de Medeiros e Xana são os nomes por trás deste gesto coletivo que nasceu do projeto Guarda-Sol. Ao invés de erguer muros, levantaram estruturas frágeis — como quem ergue ideias ao vento. A praia foi palco, foi tela, foi espelho. E agora, as obras ganham nova vida entre paredes, mas sem perder o sal e o sopro da origem.
Sol, sal e crítica: o verão é também política
Instalações, esculturas, imagens e objetos compõem este mapeamento em aberto, onde os artistas convocam a praia não só como lugar de lazer, mas de disputa, reflexão e transformação. Há nesta exposição uma espécie de “cartografia afetiva”, como a própria curadoria define — onde o litoral se revela não só na sua beleza sensorial, mas também nas suas tensões. A memória dos verões, o excesso turístico, as mudanças climáticas, a erosão da paisagem física e cultural: tudo se desenha aqui, em traços ora delicados, ora incisivos.
Eventos paralelos: arte que se movimenta, pensa e conversa
Como o mar, “Praia, Arte and Love” não é estática. Ao longo da mostra, o público será convidado a mergulhar em outros momentos de encontro e criação. No dia 26 de abril, o artista Marcelo Araújo apresenta “Make me Sound”, uma performance onde o jazz é linguagem e resistência. Uma música que nasce do corpo, do espaço e da identidade, e que ecoa como protesto, como poesia.
Em maio, a arte cruza-se com o urbanismo numa conversa com o arquiteto José Alberto Alegria, intitulada “Arquitetura como meio de resistência”. Numa época de homogeneizações e espaços genéricos, pensar a arquitetura como um gesto político é mais do que urgente — é uma forma de (re)ligar o lugar à sua alma.
Finalmente, nos dias 13 e 14 de junho, a exposição despede-se em grande estilo, com uma conversa aberta com os artistas e o lançamento de uma publicação especial, onde reflexões e processos criativos ganham corpo em papel. Uma finissage que é celebração, mas também continuação — porque o verão volta sempre, mas a arte, essa, permanece.