Na fronteira entre arte e ciência, um projeto audacioso está dando o que falar na Austrália. Um grupo interdisciplinar de cientistas e artistas criou um “mini-cérebro” a partir de células do falecido compositor norte-americano Alvin Lucier, e usou essa estrutura biológica para gerar música inédita.
Batizado de revivificação, o experimento está em exibição na Art Gallery of Western Australia (AGWA), em Perth, até o dia 3 de agosto, com entrada gratuita.
REVIVIFICATION
by Guy Ben-Ary, Nathan Thompson, Sturt Hodgetts and Matt Gingold – in collaboration with Alvin Lucier .
A proposta vai além de uma homenagem: é uma investigação profunda sobre os limites da criatividade, da consciência e das possibilidades de interação entre matéria orgânica e produção artística. A composição musical gerada pelo mini-cérebro representa não apenas um tributo a Lucier, mas também uma nova linguagem híbrida entre a arte sonora e a biotecnologia.

Alvin Lucier, falecido em 2021, foi um dos principais nomes da música experimental do século XX. Conhecido por obras que exploravam som, espaço e percepção, ele ficou célebre pela peça I Am Sitting in a Room (1969), em que repetia sua voz gravada até que as ressonâncias da sala moldassem completamente a fala, transformando linguagem em pura reverberação.
Sua carreira sempre flertou com a ciência, desde o uso de ondas cerebrais e dispositivos eletromagnéticos até colaborações com engenheiros e físicos. O projeto de revivificação, portanto, dialoga diretamente com seu legado, estendendo suas explorações para além da vida.
Esse tipo de iniciativa coloca em evidência o crescente interesse em cruzamentos entre neurociência, inteligência artificial e arte. A utilização de organoides, estruturas cultivadas em laboratório que simulam tecidos humanos, já vinha sendo pesquisada em áreas médicas. Agora, passa a compor também o cenário das artes contemporâneas, desafiando noções de autoria e presença.
Ao usar fragmentos da mente de Lucier para gerar novas composições, o projeto reacende discussões éticas e filosóficas sobre o que significa “criar”, e até onde a ciência pode ir ao buscar imortalizar o gênio humano.
Para os fãs de Lucier e curiosos sobre o futuro da música e da arte, a exposição é uma oportunidade única de experienciar algo verdadeiramente inovador, onde cérebro, som e memória se entrelaçam numa composição pós-vida.