Não estou me referindo ao belíssimo filme de 1977, de Wenders, uma adaptação da obra de Patricia Highsmith; mas sim ao fotógrafo argentino Daniel Mordzinski, que ao longo de quase quatro décadas tem se dedicado a fazer uma mapa imagético da literatura ibero-americana e daí a sua alcunha de O fotógrafo dos escritores.
Mordzinski, um americano, do sul da América do Sul, com muita sensibilidade (uma sensibilidade literária) pede licença aos escritores retratados e os veste na pele de personagens reais, eles mesmos (ou imitações do real, já que somos sempre um outro em cada máscara).
Objetivo Mordzinski – uma viagem ao coração da literatura ibero-americana é isso mesmo… uma mergulho direto ao coração daqueles que nos tem proporcionado tantas e tantas boas obras, horas, histórias, ao longo de suas vidas de escrita. É esta visão além das palavras, que está vincada, latente até, em cada imagem aqui exposta na Casa da América Latina, em Lisboa.
Mais do que escritores, o que Daniel Mordzinski nos apresenta são amigos, pessoas do nosso círculo mais próximo. Uma intimidade que transparece ao visitante. Também somos, como expectadores, através da visão do fotógrafo, esta pessoa próxima, amiga, que priva dos seus momentos únicos. Aqui, na exposição, o escritor não é distante, não é mítico, não é suas personagens… ele é literalmente exposto… É sim aquele que bebe um café connosco, joga à bola, corre na praia, calça as luvas de boxe ou, mesmo próximo, é aquele amigo imerso nos seus pensamentos, talvez personagem de si mesmo.