A partir de 17 de Junho, 4 obras-primas do cinema italiano, em cópias restauradas, com distribuição da Leopardo Filmes, para ver no Cinema Nimas e no Teatro Campo Alegre, na primeira parte do ciclo Os Grandes Mestres do Cinema Italiano:
2 filmes de Vittorio de Sica (Ladrões de Bicicletas, zénite do neo-realismo italiano, é um dos filmes maiores da história do cinema, que marcou várias gerações no mundo inteiro – Ken Loach diz que o filme mudou a sua vida, Jia Zhang Ke que salvou a sua carreira; O Milagre de Milão revela o “amor pelo grotesco” – também com uma forma de ternura –, uma das facetas da obra de De Sica, num filme cheio de humor e com um grande sentido de observação; e ainda duas sessões especiais de Umberto D., o preferido de De Sica);
e 2 filmes de Valerio Zurlini, um dos principais cineastas da modernidade europeia, autor de uma obra breve e incandescente (A Rapariga da Mala, certamente o seu filme mais célebre, história de um amor impossível – tema recorrente na obra de Zurlini –, que revela uma sublime Claudia Cardinale, aqui a desempenhar o seu primeiro papel mais importante; Outono Escaldante, que veremos na versão integral, outra das obras-primas do realizador, de um niilismo radical e desconcertante, com Alain Delon admirável, num dos seus melhores desempenhos – ele é o professor que se apaixona por uma aluna, numa Rimini invernosa).
Vittorio de Sica
Ladri di biciclette / Ladrões de Bicicletas (1948)
Miracolo a Milano / O Milagre de Milão (1951)
Valerio Zurlini
La ragazza con la valigia / A Rapariga da Mala (1961)
La prima notte di quiete / Outono Escaldante (1972)
«[…] Redescobri também alguns filmes como Ladrões de bicicleta, de Vittorio De Sica. Eu o tinha visto quando era adolescente, quando foi projectado em minha cidade, mas não me lembrava de quase nada. Na Academia de Cinema, além desse filme, assistimos a Umberto D. [1952] e Milagre em Milão [Miracolo a Milano, 1951]. Adoro também a visão cinematográfica de De Sica, há muitos ensinamentos que podemos tirar daí. Por exemplo, Ladrões de bicicleta me ensinou muito sobre a estrutura das imagens, e que há uma ordem natural nessa estrutura. A passagem do dia à noite, do vento, da chuva, do trovão e dos raios: para mim, o cotidiano está contido nessa organização natural das condições climáticas. Gosto principalmente de uma cena onde pai e filho fogem da chuva. Nas ruas de Roma, de repente começa a chover, e os vendedores ambulantes dão no pé. Pai e filho se abrigam debaixo de uma marquise, e um grupo de religiosos se aproxima. Para mim, isso é poesia do cotidiano. A chuva traz um vocabulário e uma linguagem poéticos, e o barulho da chuva cria um momento poético. […]»
Jia Zhangke, O Mundo de Jia Zhangke, de Jean-Michel Frodon e Walter Salles, Ed. Cosac Naify