Fotógrafos revelam segredos e inspirações para criação de suas obras

Cláudio Cardoso e Daniel Ferreira participam do Habemus Artem e contam um pouco mais sobre o desenvolvimento das fotos em movimento.

Inaugurada em 13 de julho, a exposição Visões do Movimento é uma mostra virtual de 20 obras dos fotógrafos Cláudio Cardoso e Daniel Ferreira de Souza, que conversam num mesmo tema: o movimento. 

No âmbito do projeto Habemus Artem, uma parceria entre a Rodyner Gallery e Arte 351, cada artista apresenta, para essa exposição, 10 trabalhos que destacam-se entre fotografias e art/photo digital, a usarem técnicas e inspirações, até mesmo divinas.

A equipa entrevistou os dois talentosos artistas, para descobrir mais sobre o caminho que trouxe resultados espectaculares em seus trabalhos e que estão na exposição Visões do Movimento, até setembro de 2021.

 

O Primeiro Contacto com fotografia

Daniel Ferreira teve seu primeiro contacto com a fotografia desde a tenra idade. Observador desde miúdo, recebeu influências da família – que gostava de fotografar – e a sua primeira câmera fotográfica aos 15 anos de idade. “Era uma Pentax SP1000, que guardo até hoje!“, revelou à nossa equipa. 

 

Contudo, foi a compra da primeira câmera profissional, do artista Cláudio Cardoso, que deu início ao primeiro contacto com a fotografia, há 32 anos atrás. Foi no mesmo ano de seu casamento, em setembro de 1989, que Cláudio, em lua de mel nos Estados Unidos, decidiu comprá-la. 

 

Técnicas distintas resultam imagens em movimento

Para criar imagens em movimento, o processo que os dois fotógrafos utilizaram para a Exposição são diferenciados tecnicamente. Enquanto Daniel utiliza técnicas de pintura, especialmente de veladuras, ou seja, camadas de tinta sobrepostas, Cláudio segue intuitivamente a busca de um movimento natural da imagem fotografada, agregado a técnicas fotográficas que geram movimento proposital.

 

Acostumado a fazer séries, Daniel confessa que as figuras em movimento tomaram-lhe muitos meses de trabalho, ajustes, retoques e inserção de elementos.”É um hábito próprio do pintor. Para definir cada cena e composição levo bastante tempo. “A Odalisca”, inspirada na pintura do artista francês François Boucher, por exemplo, passei uma tarde toda para fazer as fotos. A modelo posou como se estivesse posando para uma pintura.

 

Foto: Odalisca (Daniel Ferreira)

 

Inspirações e Confissões

Mesmo em meio a tantos desafios, é na rua onde Cláudio gosta de fotografar. São surpresas e acontecimentos inesperados que movem a cidade. Quando não alcança um resultado esperado, sente-se desapontado e desabafa, “Tudo acontece muito rápido e estar preparado para o que vem pela frente é fundamental. Às vezes ia pra casa frustrado por não ter feito ‘aquela foto’, mas mesmo ao final do dia uma simples imagem pode salvar todo um dia de trabalho frustrado.” 

 

Foto: Ciclista (Cláudio Cardoso)

 

Daniel busca inspiração para criação de seus trabalhos artísticos, principalmente em obras dos períodos Clássico e Barroco. Entretanto, expande conceitos em referências da arte urbana. “Sempre faço fotos de grafites e textos que vou encontrando na rua para posteriormente inserir em meus trabalhos como elementos estéticos e conceituais.

 

Para Cláudio, a inspiração é divina e não atua sozinho, mas em equipa. “Sou inspirado por Deus o tempo todo, mas se não estiver trabalhando e com a câmera nas mãos ele não pode fazer muita coisa. É mesmo um trabalho em equipe.” E ressalta: “As fotos dessa exposição fazem parte desse legado dele para mim, pois são, sem dúvida, as melhores que já tirei, ou seja, presentes vindo do céu.

 

Sobre Cláudio Cardoso

Nascido no Rio de Janeiro, Cláudio Cardoso trabalhou muitos anos na área financeira, e sempre foi um grande apreciador das artes, principalmente da pintura e da fotografia. Em 2009, mudou-se para NYC para acompanhar a cirurgia e recuperação da filha, Maria Luiza, que gostava muito de pintar. Para dar suporte à filha, Cláudio dá os primeiros passos na pintura e logo a admiração pelas artes se desenvolve em paixão a tempo inteiro.

​Em 2012 inicia aulas práticas de técnicas de pintura com o Artista Plástico e Professor Luiz Badia no Atelier Baluarte, onde possui e faz questão de preservar um espaço para trabalhar e estar junto dos amigos que ali se mantêm até hoje, sempre fazendo arte. Neste contexto desenvolve junto com outros alunos e artistas do atelier suas inspirações e composições sempre com o suporte e atenção do seu professor.​

 

Em 2014 inicia um curso na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, com o grande colorista, amigo e professor José Maria Dias da Cruz e define como as suas principais referências, os pintores Gerhard Richter e Jackson Pollock. Na sequência do tempo como aluno no Parque Lage e da sua evolução como artista, Cláudio faz o seu debut expondo as suas telas em importantes galerias e eventos de arte nos Estados Unidos, tais como: Latin American Art Fair (2014), Miami Art Fair – Art Basel (2014) e o Creative Mischief Exhibition – National Academy Museum & School em NYC (2015/ 2016).

 

Após a bem-sucedida entrada no mundo das artes como artista, Cláudio decide aprimorar os seus conhecimentos com o Diretor da National Academy Museum & School NYC, Maurizio Pellegrin, a quem considera o seu mestre. Na ausência de um estúdio em NYC onde pudesse trabalhar e criar as suas telas, Claudio Cardoso toma posse do caos cosmopolita das ruas de Manhattan e começa a dedicar-se à sua outra paixão, a fotografia. É então, a partir daqui, que o artista começa a transpor para a sua fotografia as técnicas de squeeze de Richter, que tanto o influenciaram como pintor.

 

A busca por efeitos semelhantes na fotografia dá-se usando a câmera em baixa velocidade, aproveitando-se dos resíduos deixados na fotografia para provocar um efeito de movimento na obra. Desde então, a sua linha de trabalho passa por explorar a imaginação do espectador, criando vida num objeto inanimado e estático, como a fotografia. O objetivo é despertar a sensibilidade e a imaginação de quem vê a fotografia e fazer com que cada pessoa tenha uma ideia de movimento diferente. Dessa experiência nas ruas de NYC, sai a primeira sequência de fotos intitulada “os ciclistas”, que marca para o artista o início da sua carreira como fotógrafo e o seu objeto de estudo e trabalho, a criação do movimento.

 

​Já em 2015, Cláudio vai para a Itália integrado no programa Academy Abroad, promovido pelo professor Maurizio Pellegrin, para prestigiar a Bienal de Arte de Veneza e participar numa semana em “Estúdio Intensivo de Criação” no Lago Como. Por consequência da experiência em Itália, o artista inicia em novembro de 2016 o Long Term Art Course na National Academy Museum & School – NYC com o Professor Pellegrin, onde começa a desenvolver o trabalho de intervenção nas imagens em “movimento”. A combinação dessas duas técnicas consolida-se com a obra The Corner (2,20x2m), exposta no 6th Creative Mischief Exhibition NYC em 2017.

 

​Em Portugal expõe pela primeira vez em 2018 na Galeria da Associação José Afonso, como o tema “Liberdade”, uma abordagem fotográfica à vida “natural” na cidade de Lisboa, exposição que permanece até ao final de Março de 2019.

 

Claudio Cardoso atualmente reside em Portugal e está a trabalhar com a sua equipa de produção e criação, no desenvolvimento de novas exposições, a última “Movimento”, foi exibida em Lisboa em Julho de 2019.

 

Sobre Daniel Ferreira

Daniel Ferreira de Souza nasceu no Rio de Janeiro – Brasil. Começou a desenhar em 1972 como autodidata. A partir do ano de 1977 frequentou academias de arte e conservatórios de música, passando a dedicar-se à pintura e à música. Durante a década de 70 participou de salões de arte e começou a expôs seus trabalhos comercialmente em galerias de arte. Em 1981 fez sua primeira viagem para Itália e durante esse ano frequentou, as aulas de desenho artístico na Academia de Artes de Brera em Milão e estudou as obras dos mestres da pintura do Renascimento Italiano nos museus de Milão, Roma e Florença. Retornou à Itália em 1987 e em 1990.

Nessas duas viagens foi para o sul da Itália onde teve contato com a pintura italiana do século XIX (Macchiaioli). Em sua etapa italiana incorporou à sua pintura as técnicas apreendidas das obras dos pintores dessa escola de arte. Em 1991 fez uma breve viagem à Espanha. Passou três meses em Madri e frequentou assiduamente o Museu do Prado onde realizou diversos estudos em desenho das obras de Velásquez e Rubens. Matriculou-se Círculo de Belas Artes onde praticou e aperfeiçoou sua técnica de modelo vivo. Em 1992 retornou a Madri e passou a viver na cidade pelos quatro anos seguintes. Em Madri aprimorou sua técnica de pintura realista e estudou mais profundamente os elementos estéticos das obras de Velásquez. Voltou para o Brasil no ano de 1997 e iniciou um período de grande produção e experimentações artísticas.

 

Em 2002 volta-se para o estudo dos recursos digitais. Em 2004 substitui os meios tradicionais da pintura adotando a fotografia digital como suporte para suas obras passando, posteriormente, a unir as duas linguagens em seus trabalhos.. Atualmente vive e trabalha na cidade do Rio de Janeiro. Sua formação artística inclui curso de desenho na Sociedade Brasileira de Belas Artes (Rio de Janeiro -1977/1979). Pintura na Escola Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro – 1979/1981). Curso de História da Arte no Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro – 1980) e prática de modelo vivo no Círculo de Belas Artes (Madri-Espanha – 1991/1994).

 

Visões do Movimento, de Cláudio Cardoso e Daniel Ferreira

De 13 de julho a 13 de setembro de 2021

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