Maiden Voyage é uma exposição de vídeos para ver até o fim de maio

A frase Maiden Voyage faz referência à primeira viagem ou experiência de alguém. Assim, cinco artistas apresentam seus primeiros trabalhos até 28 de maio, em Lisboa.

Maiden Voyage é uma exposição colectiva que reúne os primeiros trabalhos de Ursula Mayer, Nathaniel Mellors, Laurent Montaron, Alexandre Singh e Guido van der Werve, com curadoria de Mattia Tosti e textos de: Ana Cachola, Cristina Sanchez-Kozyreva, José Pardal Pina, João Silvério e Luís Silva.

Maiden Voyage é uma frase usada para indicar a primeira viagem de um navio para o mar, um avião para o céu, ou outros veículos para a sua finalidade específica, como pode ser usada para descrever a primeira experiência de alguém. Usando esta frase como título da exposição, pretende-se explorar o significado das obras de arte criadas no início de um percurso artístico, lançando alguma luz sobre as intenções, contextos e atmosferas que rodearam a concepção e produção dos primeiros vídeos destes cinco artistas representados pela galeria.

Ao reunir cinco diferentes Maiden Voyage, esta exposição pretende estimular uma narrativa retroativa sobre as carreiras dos artistas que já mostraram o seu último trabalho em Lisboa (Guido van der Werve e Lauren Montaron);

 

Laurent Montaron, Readings

Trecho do texto de Cristina Sanchez-Kozyreva

Em Readings (2005), a quase ausência de som deixa o espectador à sua própria disposição, suspendendo o tempo através de pausas carregadas de significado. O texto legendado, em vez de uma narração em voz, faz previsões sibilantes que o artista reuniu a partir de leituras de palmas de mãos realizadas por videntes de rua em Nova Iorque, enquanto cenas prolongadas escrutinam o chiaroscuro do interior arcaico da cúpula astronómica do histórico Observatório de Meudon.

 

Guido van der Werve, Suicide 8945 till 8948

Trecho do texto de João Silvério

Acções performativas em que o próprio artista é a figura principal destes registos videográficos que demonstram o seu interesse pela performance, pelo cinema e pela música, que interpreta e compõe. Nas duas peças referidas, a presença da morte, como uma possibilidade enquanto queda, no sentido mais clássico do termo, ou como a tragédia de uma personagem, interpretada pelo artista, é uma constante que revela uma tensão sobre os limites do seu próprio corpo e da sua existência física e emocional.

 

Nathaniel Mellors, MACGOOHANSOC

Trecho do texto de José Pardal Pina

A personagem principal comanda as várias cenas como se uma candidata política inglesa se tratasse. Mas é apenas um corpo – o corpo do ator Patrick McGoohan, livre de espírito, esse que agora “paira livremente pelo continente à procura de um vassalo apropriado para possuir”. É o dualismo levado ao extremo, ao anedótico, ao caricatural – a “crítica da razão cínica”, tal como proposta por Peter Sloterdijk e pelos cínicos gregos, nomeadamente Diógenes.

 

Ursula Mayer, INTERIORS

Text by Ana Cachola

Duas mulheres, de idades (tempos?) diferentes, percorrem a casa do casal Ernö e Ursula Goldfinger, num encontro que nunca se concretiza. Esta casa, situada em Londres, foi, nos anos 1930, espaço de encontro de figuras modernistas – como o foram os próprios Goldfinger – e acolhe uma colecção de arte do século XX. O cânone modernista (masculino e patriarcal) contrasta, nesta obra, com a presença das duas mulheres, mas também com a réplica de uma escultura de Barbara He-
pworth que Mayer acrescenta ao interior da casa. Apesar de Hepworth nunca ter feito parte do círculo Goldfinger, a escultura da artista britânica dilata a potência especulativa e histórica da composição fílmica.

 

Alexandre Singh, The Marque of the Third Stripe

Text by Luís Silva

No coração dos Alpes, um imponente castelo lança uma sombra ameaçadora sobre Herzogenaurach, uma pequena cidade de montanha. Apesar de o seu exterior ser antigo, em ruínas, uma verdadeira extravagância gótica, o interior não podia estar mais distante de um tal imaginário romântico: tudo é o resultado de um design modernista. Criptas e passagens subterrâneas são moldadas em cimento, as paredes são lisas e frias ao toque e todos os ângulos são retos. Este é o centro nevrálgico da Adidas e é neste misterioso palácio de produção que são fabricados os ténis de alto calibre da marca das três bandas, proporcionando assim emprego e controlando toda a população da pequena cidade alpina.

 

Maiden Voyage

Até 28 de maio

De segunda-feira a sexta-feira das 14h às 19h

Monitor Lisbon

Rua D. João V, 17A

1250-089 Lisbon, Portugal