Temps d’Images apresentam obras que intersectam as artes performativas e audiovisuais, em vários espaços da cidade de Lisboa, em maio e outubro.
A 19.ª edição do Temps d’Images retoma a apresentação de obras que intersectam as artes performativas e audiovisuais, em vários espaços da cidade de Lisboa, em dois momentos, o primeiro dos quais com início em Maio.
Nos dois momentos de exibição, o Temps d’Images 2021 apresenta 14 obras, entre estreias absolutas e primeiras apresentações em Lisboa, que abrangem o teatro, a dança, a instalação e a performance.
No Momento I, entre 12 de Maio e 6 de Junho, são apresentadas as obras Ghost, de Luís Marrafa, no Pequeno Auditório do CCB; Mappa Mundi, de Joana de Verona e Eduardo Breda, na Galeria Appleton; Andrómeda, de Luciana Fina, nas Carpintarias de São Lázaro e Perfect Match, pelo Hotel Europa, na CAL/Primeiros Sintomas. Este parceiro do Temps d’Images recebe também YOLO, de Sara Inês Gigante, enquanto as obras Kit de Sobrevivência em Território Masculino, de Marion Thomas e Sprites of Meadowlands, de Mateja Rot, se apresentam no Jardim do Príncipe Real.
O Momento II desta edição do Temps d’Images acontecerá entre 22 de Outubro e 7 de Novembro, com um programa a anunciar oportunamente.
Desde a sua criação, em 2003, e ao longo de 18 edições, passaram pelo Temps d’Images mais de 350 peças de autores nacionais e internacionais, de diversos formatos e géneros, incluindo a performance, teatro, instalação, cinema, dança, fotografia ou música.
O Temps d’Images é uma produção DuplaCena / Horta Seca financiado por República Portuguesa – Cultura | Direcção Geral das Artes e Câmara Municipal de Lisboa.
Momento I
Ghost, de Luis Marrafa
Primeira estreia absoluta deste Momento I e apresenta-se a 12 e 13 de Maio, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém.
“Tive o privilégio único e a alegria profunda de testemunhar o nascimento de Ghost, um solo de Luis Marrafa. Memórias da morte do seu pai foram o ponto de partida para a peça, mas o resultado foi muito superior ao que teria sido se contasse ou mostrasse um caso pessoal.
Ghost toca em sentimentos que nos lixam a cabeça. É o que um corpo humano, junto com a música de Bach, é às vezes capaz de fazer: expressar esses sentimentos que não conseguimos descrever com palavras e, por isso, o corpo começa a mover-se.
Ao longo desta viagem perguntei-me se o seu pai estaria lá, entre nós…de verdade?
Ou será que os filhos se estão a transformar nos seus pais?”
Alain Platel
Conselheiro artístico
«Um solo interpretado por um homem que se desdobra momentaneamente, dando origem a duas personagens com discursos independentes e acompanhados por visões utópicas. A interpretação de Luis Marrafa investe na geração de imagens, profundas e abstractas, de um indivíduo assolado com o facto de estar vivo com a exacta idade que o seu pai tinha quando morreu. A peça, marcada por uma deliberada estranheza cénica e coreográfica, acompanha o desfiar de um pensamento metafísico onde afluem várias questões sobre a existência, o absurdo da vida e a presença da morte.»

Mappa Mundi, de Joana de Verona e Eduardo Breda
Estreiam em Lisboa, entre 20 e 21 de Maio, na Appleton.
«A palavra é uma ferramenta que encerra em si mesma o poder de nos ajudar a derrubar e, ao mesmo tempo, transporta em si a maior das fraquezas: querer traduzir em linguagem o que não é possível traduzir.
Em Mappa Mundi, confrontamos as nossas memórias individuais e coletivas num mundo cada vez mais globalizado e dividido. Questionando a utilização da palavra enquanto ferramenta de comunicação (tanto no plano da oralidade como na escrita), expõe-se os seus limites/fronteiras num mundo em expansão. Sobre o pressuposto da sobreposição de imagens e discursos e tendo em conta o domínio das várias valências artísticas dos performers (teatro/movimento/ cinema), Mappa Mundi explora diversas ideias formais e conceptuais na base da criação artística, deixando-se influenciar pelos contextos atuais que nos inquietam, refletindo e agindo sobre eles.»
Andrómeda, de Luciana Fina
As Carpintarias de São Lázaro recebem a estreia absoluta de Andrómeda, de Luciana Fina, a 21 de Maio, mantendo-se em exibição até 1 de Agosto.
«Concebida para ambiente expositivo, a instalação Andrómeda convoca o pensamento crítico, a expressão artística e cinematográfica inscritos no palimpsesto da televisão pública italiana nos anos 1960 e 1970. São os anos da entrada do meio televisivo no espaço doméstico, os mesmos em que o cinema questiona profundamente a sua relação com o real e em que surge a resposta experimental da primeira videoarte. Curto-circuitando memória subjectiva e memória colectiva, bem como a condição do proto e do pós-espectador contemporâneo, a instalação documenta e revitaliza a complexidade das ideias e das artes num momento singular da história da imagem.»
Perfect Match, pelo Hotel Europa
A 29 de Maio, o Hotel Europa estreia em Lisboa Perfect Match, com apresentação também a 30 de Maio, na CAL/Primeiros Sintomas, abrindo um novo capítulo no percurso da companhia com o tema das migrações.
«Perfect Match é um espetáculo de teatro documental sobre a importância do amor e das relações amorosas nas migrações que marcaram o século XX em Portugal. Voltamos ao passado, à fuga de milhares de pessoas da miséria durante o Estado Novo, e refletimos sobre o presente, os novos movimentos migratórios muitas vezes vistos como uma ameaça. De que forma as relações amorosas são marcadas e condicionadas pelos movimentos de migração de pessoas na Europa? Como
respondeu e responde o amor a estas situações extremas?
O guião foi construído a partir de testemunhos e das histórias e experiências de vida dos intérpretes, nascidos em países muito diferentes: Brasil, Colômbia, República Checa, França, Grã-Bretanha e Itália.»
YOLO, de Sara Inês Gigante
A terceira estreia absoluta deste Momento I da edição de 2021 do Temps d’Images é YOLO, de Sara Inês Gigante, que se apresenta entre 3 e 5 de Junho na CAL / Primeiros Sintomas.
«Decidi fazer este espectáculo depois de um telefonema com a minha mãe. Falava com ela sobre a minha impotência. Mais concretamente, falámos uma hora sobre formas de eu poder ter uma casa própria. A solução mais viável, e também uma das que sempre me impressionou mais por várias razões, seria a de comprar um terreno nos arredores de Lisboa, e comprar uma casa pré-fabricada. Percebi que o que parecia ser a solução mais viável estava ainda longe de ser viável. Ou talvez não…
Acabámos o telefonema e fui procurar terrenos na internet.
Depois, fui pesquisar sobre casas pré-fabricadas, os seus preços e as suas características.
Depois, fui pesquisar como se pede um crédito de habitação.
Depois, fui pesquisar se os bancos me emprestavam dinheiro para isto.
Depois, fiz contas.
Depois pensei. Pensei muito.
Depois, decidi que ia fazer este espectáculo.
E claro, voltei a ligar à minha mãe.»
Kit de Sobrevivência em Território Masculino, de Marion Thomas
Uma estreia nacional, apresenta-se a 6 de Junho, no Jardim do Príncipe Real.
Marion Thomas «oferece-nos uma visão alternativa das lutas feministas: a do inimigo. O público, equipado com auscultadores, faz uma visita guiada num espaço urbano para explorar o mundo dos incels *. Esta experiência conjuga a história pessoal com a de um incel. Ao longo deste percurso, cada espetador poderá desenvolver uma visão pessoal da experiência de aceder aos mistérios masculinistas.
* A subcultura incel (um neologismo de involutary celibates) difunde-se nas comunidades online misógenas, cujos membros se definem por não terem a possibilidade de encontrar uma parceira, seja para um romance ou para ter sexo. Os que se auto-intitulam incels são quase exclusivamente homens, que se encontram na internet à volta de uma causa comum: o ódio às mulheres.»
Sprites of Meadowlands, de Mateja Rot
A última apresentação do Momento I do Temps d’Images 2021 é Sprites of Meadowlands, de Mateja Rot, também a 6 de Junho no Jardim do Príncipe Real, e igualmente em estreia em Portugal.
«Mudar a escala, olhares que desvendam; Sprites of Meadowlands (Imagens da Pradaria) propõe uma exploração de espaços escondidos num jardim. Começa com um passeio para apreender os detalhes que caracterizam a sua morfologia. Os espectadores são convidados a participar num jogo desenhado para activar um espaço urbano específico, neste caso, um jardim. Jogando com o que está escondido e com o que está à vista, Mateja questiona a nossa percepção da realidade e das vivências sociais na cidade. Os participantes são convidados a interagir online com o projecto através do link: meadowlands.surge.sh.»