Morreu Jorge Sampaio, ex-presidente de Portugal, aos 81 anos

Morreu nesta sexta-feira (10), aos 81 anos, o ex-presidente de Portugal, Jorge Sampaio. Sampaio estava hospitalizado desde o fim de agosto no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, a sofrer de graves problemas cardíacos.

Sampaio estava de férias com a família no Algarve quando teve de ser internado no Hospital de Portimão, tendo depois sido transferido para o Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, onde era acompanhado.

Jorge Sampaio entregou-se à vida como um “prisioneiro da grande ansiedade por um futuro melhor”, como de si próprio disse em entrevista à RTP em 1992. “Jorge Sampaio nos deixou hoje com uma dupla herança, composta de liberdade mas também de igualdade“, afirmou o atual presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.

Sampaio foi secretário-geral do Partido Socialista, prefeito de Lisboa e chefe de Estado de Portugal por dois mandatos, entre 1996 e 2006, além de enviado especial da ONU contra a tuberculose e alto representante da Aliança das Civilizações.

Desde as lutas estudantis dos anos 60 aos alertas humanitários dos últimos anos, Jorge Sampaio destacou-se na vida política portuguesa ao longo dos anos.

Nascido a 18 de setembro de 1939, Jorge Fernando Branco de Sampaio licenciou-se em Direito em 1961 pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Nos primeiros tempos da faculdade, Sampaio junta-se à luta contra a ditadura, então ainda a tentar gerir o rescaldo das presidenciais de 1958 e da mobilização que a candidatura Humberto Delgado provocou. Ao longo do curso, Jorge Sampaio envolveu-se na vida académica e é eleito presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa, sendo mais tarde designado secretário-geral da Reunião Interassociações Académicas (RIA).

Jorge Sampaio entrou em confronto político, pelo primeira vez, com o regime de Salazar acontece como responsável do RIA, tendo sido um dos líderes da greve académica de 1962, que começou em março e durou até à época de exames. No auge da contestação estudantil, em Lisboa, a polícia reprimiu violentamente uma manifestação da academia, o que conduziu à demissão de Marcelo Caetano de reitor da Universidade de Lisboa, em protesto pela atuação da polícia que invadiu o campus universitário e prendeu dezenas de estudantes.

Nessa contestação estudantil, que envolveu as academias de Coimbra e Lisboa resultou em uma proibição às celebrações do Dia do Estudante, no governo de Salazar, que não percebia que os estudantes eram os filhos da classe média-alta, ou seja, muitos filhos do regime foram presos. O próprio Jorge Sampaio podia ser considerado um “filho do regime”.

Sampaio era neto do militar e diplomata Fernando Branco, outrora ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa na década de 1930 e filho de Arnaldo Sampaio, conceituado médico de saúde pública, cuja carreira internacional levou Jorge a viver alguns anos da infância e adolescência nos Estados Unidos e em Inglaterra. 

Sampaio iniciou carreira advocatícia, após o curso de direito, e abriu escritório com Vera Jardim e Magalhães e Silva. Foi defensor de presos políticos e, em 1969, concorreu à Assembleia Nacional pela Comissão Democrática Eleitoral (CDE). Nessas eleições, na chamada Primavera Marcelista, a oposição ao regime divide-se. Na outra lista, a da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática em Lisboa (CEUD), estava Mário Soares.

Jorge Sampaio aderiu ao PS em 1978 e chegou a líder do partido em 1989. Na mesma altura, foi eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido reeleito em 1993. Também foi Presidente da República durante dois mandatos, entre 1996 e 2006.

Após 2006 foi nomeado especial para a Luta contra a Tuberculose pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre 2007 e 2013, foi o alto representante da ONU para a Aliança das Civilizações.

Sampaio presidia atualmente à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, que o próprio fundou em 2013, com o objetivo de contribuir para a resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens para trás e sem acesso à educação.

O seu espírito e a sua liberdade artística foi notado quando ousou escolher Paula Rego para um magnífico quadro oficial, tão pouco ortodoxo, e porventura mais heterodoxo ainda do que o de Soares pelo Pomar – a escolha desse retrato é um retrato em si.